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Alerta: principal captação de água de CL já tem 80% de sua área assoreada


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Mauricio João Vieira Filho
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Publicado em: 24/06/2021 - 12:30

Água Preta: principal captação já apresenta 80% da sua área assoreada

Na segunda reportagem da série especial, o Jornal CORREIO visita o Manancial da Água Preta, onde está o principal sistema de captação de água da Copasa para tratamento e distribuição para consumo pela população. E a situação, mais uma vez, mostra-se preocupante: o assoreamento já atingiu uma grande proporção do espelho d’água e outros problemas, como o desvio do curso para o consumo agrícola é uma realidade observada em vários pontos. Pequenas ações mitigadoras também foram observadas, mas em proporções insuficientes para evitar que uma nova seca afete a cidade. Lafaiete está nas mãos da natureza.

Parcialmente visível pela MG-19-29, a captação da Lagoa da Água Preta se localiza entre o final do Morro da Mina, o Rancho Novo e a região dos Almeidas. Pela legislação ambiental, é considerada uma lagoa natural: uma depressão existente no terreno permite o acúmulo de água sem a necessidade de barramentos para o controle de sua vazão. Seu formador principal é o córrego dos Almeidas, que drena águas vindas de regiões mais acima, como o povoado de Roça Grande e a região da Estância, já quase divisa com Itaverava. Também contribuem para a formação da lagoa da Água Preta pequenos córregos tributários, vindos de localidades como a Pedra Branca, Vargem Alegre e Sismarias.

Problemas que se acumulam

Todo este complexo de nascentes e pequenos riachos, que abrange uma área de drenagem rica em recursos hídricos, é direcionado para a formação da lagoa da Água Preta, que possui duas bacias de acumulação; a primeira antes e a 2ª após a captação da Copasa. Imagens de satélite permitem observar que a Lagoa da Água Preta tem uma área total de acumulação equivalente a cerca de 52 hectares - 38 hectares na 1ª bacia e 14 hectares na segunda.

Em condições normais, essa grande extensão territorial permitiria acumular um grande volume de água, equilibrando a oferta e a demanda em período de estiagem. Mas o processo de assoreamento da lagoa, em sua primeira bacia, vem minando a capacidade de acumulação de água: mais de 80% da área da primeira bacia, que deveria nos garantir uma boa reserva hídrica, está tomada pelo assoreamento, que avança ano após ano.

Conforme analisam ambientalistas, esse assoreamento é resultado das ações desenvolvidas acima do ponto de captação, principalmente, a agricultura. A região dos Almeidas é um conhecido polo de produção agrícola, o que exige sempre a preparação do solo. Neste processo, a terra é revirada a cada plantio, favorecendo o carreamento de partículas para os cursos d’águas. Essas partículas são levadas pela correnteza e depositadas nas partes mais fundas, principalmente, em lagos, como é o caso. O material assoreante, trazido pelos cursos d’água, vai sendo depositado lentamente, dia após dia, no fundo da lagoa, até atingir a superfície, que é onde surgem as taboas - vegetação típica de áreas assoreadas em lagoas. Esse é o processo que observamos claramente na 1ª bacia: em toda a superfície, ilhas de material assoreante crescem devagar e ao se encontrarem, fecham a passagem da água, que acaba fluindo por outros caminhos, conforme a drenagem permite.

Não bastasse a situação alarmante da primeira bacia de acumulação, já tomada pelo assoreamento, o excesso desse material que consegue avançar e até superar a captação da Copasa já está sendo depositado, também, na segunda bacia, logo depois da captação e, aos poucos, vai avançando para todo o espelho d’água. Essa segunda bacia é a parte que fica visível a quem passa pela estrada MG-129, sentido Rancho Novo, e também sofre os efeitos do córrego da Água Preta, que passa ao final do Morro da Mina e segue sentido à lagoa, para se juntar à água que sai da segunda bacia, formando o ribeirão Ventura Luiz.

Imagens de satélite também mostram que o material assoreante, vindo das partes mais altas da bacia, já cobriu cerca de 5 hectares do espelho d’água e avança a cada dia para novas áreas. Ainda que a captação aconteça antes dessa segunda bacia, ela também tem importante papel como acumuladora, pois pode ser opção para mais um ponto de captação, como foi feito pela Copasa na estiagem severa de 2014.

A perda de áreas de acumulação de água na lagoa da Água Preta acende um alerta para a situação crítica de nosso principal manancial de água, que vai sendo engolido aos poucos pelo assoreamento. Diferente do manancial Bananeiras, o da Água Preta não sofre impactos direto de lançamento de esgoto sanitário, que alteraria a qualidade da água. Seu nível de pureza também está enquadrada como Classe 2 – o consumo requer tratamento convencional por parte da Copasa. Mas há outra ameaça: a captação de água superficial para uso em culturas agrícolas. Tão difundida na região dos Almeidas, a atividade exige um grande volume de água para regras constantes, principalmente no período seco - justamente no momento que os reservatórios apresentam níveis baixos de acumulação.

Em visita ao manancial, nossa reportagem flagrou desvios de água para consumo agrícola e também conferiu algumas intervenções pontuais feita pela PMCL para desassorear a cabeceira da lagoa, onde já visível o represamento dos córregos que ali desaguam. O material retirado do leito estava depositado às margens, comprovando o grande volume de terra, que por força da correnteza seria levado e depositado na área de acumulação da primeira bacia da lagoa da Água Preta. Ações deste tipo causam impactos positivos ao manancial, pois liberam o canal de drenagem, aumentando o fluxo de água e impedindo que este material fosse levado para áreas mais adiante. Mas pelo estado avançado assoreamento, estas ações de dragagem, embora importantes, são paliativos, que atacam os efeitos, e não as causas do problema que gera o assoreamento.

Os donos da água

Assim como no Manancial do Bananeiras, o da Água Preta também tem todas as terras do seu entorno nas mãos de particulares, o que dificulta as ações de fiscalização e gestão, por parte do poder público. Mas ainda assim, conforme estabelecido no Plano Diretor, as áreas acima de mananciais são áreas de controle ambiental e devem ser monitoradas por parte do poder público: elas devem manter sua vocação como mananciais de abastecimento público, ao mesmo tempo que a região também precisa manter a sua vocação de polo produtor de produtos agrícolas. A situação requer intervenções urgentes por parte do poder público, para evitar que em um tempo não muito distante, tenha que administrar conflitos pelo uso da água, que muitas vezes são alimentados pelo choque do interesse privado com o interesse público.

Vulneráveis

Ao final das duas reportagens sobre a situação de nossos mananciais de abastecimento - Bananeiras e Água Preta, concluímos que ambos estão em situação de grande vulnerabilidade, expostos a diferentes situações degradadoras. Entre elas, o assoreamento, lançamento de esgoto, exposição do solo, derivações de água sem controle. Tudo isso altera a qualidade e quantidade de água disponível para a captação, tratamento e distribuição à população, por parte da COPASA, sem falar na ameaça da chegada da especulação imobiliária.

Essa situação exige medidas urgentes. Exatamente por isso, o Jornal CORREIO enviou uma série de questionamentos à Copasa, Prefeitura, Câmara Municipal, Promotoria do Meio Ambiente e Conselho Municipal do Meio Ambiente (Codema). Será a oportunidade para que cada um possa fornecer o seu posicionamento e, a partir daí, quem sabe, estabelecer uma ação conjunta de fiscalização e normatização quanto ao uso e procedimentos ao longo das bacias, que formam os nossos mananciais.

Ribeirão Almeidas é o principal formador da Lagoa da Água Preta

Córrego da Pedra Branca é outro tributário na formação da Lagoa da Água Preta

Presença de taboas por toda a lagoa reforçam o problema do assoreamento do reservatório

Intervenção da PMCL para desassorear o início da lagoa e evitar o avanço do material assoreante

Canal de drenagem do Córrego dos Almeidas limpo recentemente, próximo ao início da lagoa

Chegada do Córrego Vargem Alegre no início da formação da Lagoa da Água Preta.

Chegada do Córrego da Pedra Branca no início da formação da Lagoa da Água Preta

Desassoreamento feito há pouco tempo no início da lagoa, melhora o fluxo da água.

Intervenções de desassoreamento no Canal do Córrego Almeidas, aumentou a vazão de água para a lagoa.

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