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História do Jornal CORREIO


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Publicado em: 19/05/2010 - 21:48

Conheça a história do Jornal CORREIO

O periódico conquistou credibilidade e a confiança de leitores, venceu dificuldades e comemora marca histórica.

Juliana Monteiro
Jornalista

Modéstia à parte, não é qualquer veículo de comunicação que pode se orgulhar da histórica marca de mais de 1400 edições. Em 27 anos de circulação, o Jornal Correio da Cidade conquistou credibilidade e a confiança do leitor. É o mais antigo periódico em circulação ininterrupta no Alto Paraopeba, líder em assinaturas e vendas avulsas, o que se reflete na maior tiragem mínima da região, hoje fixada em 5 mil exemplares. Mas por trás de uma história de sucesso, há vários capítulos de luta e de superação. O veículo, que nasceu da vontade de um jovem e idealista jornalista, que tinha apenas 26 anos de idade, enfrentou dificuldades que teriam feito muitos abandonar o sonho.

O Jornal Correio da Cidade foi fundado em 17 de junho de 1991 pelo jornalista Luiz Fernando de Andrade. Psicólogo formado pela Funrei (atual UFSJ) em 1990, Andrade cursou quatro períodos pelo curso de Comunicação Social na FafiBH (1983/1984), hoje UniBH, mas se viu obrigado a deixar o curso por dificuldades financeiras.

Com passagens pelos extintos Tribuna Regional, Folha de Lafaiete, Folha de Minas – todos de Lafaiete, o jornalista recebeu, em 1987, um convite para atuar como repórter no jornal Correio da Serra, pertencente à família Andrada, em Barbacena. Em pouco tempo, o repórter passou a conciliar sua atuação no impresso ao trabalho na rádio Correio da Serra.    

Polêmico e sem vinculações políticas, o jovem repórter foi o responsável pela criação de programas como o Correio em Debate. Com forte apelo comunitário, o programa colocava frente a frente comunidade e poderes instituídos para debater assuntos de interesse social. O mesmo formato era notado em suas matérias, o que acabou por torná-lo uma personalidade de destaque no cenário municipal, culminando com o convite para assumir o cargo de assessor de imprensa da Câmara durante a elaboração da Lei Orgânica de Barbacena.

No entanto, a recusa sistemática em obedecer aos limites impostos teria culminado com uma situação descrita por Andrade como insustentável: “Sempre gostei do debate. Queria fazer um jornalismo independente e imparcial. Em 1991, meu salário caiu para 1/5 do valor. De casamento marcado para 20 de abril daquele ano, vi todas as portas se fechando diante dos meus olhos. Foi quando decidi regressar a Lafaiete e, aos 26 anos, criei o Jornal Correio da Cidade”, relembrou.

Em 1991, ano da fundação do Jornal Correio, Lafaiete possuía apenas um jornal, o Gazeta Mineira. Para fazer frente ao semanário, Luiz Fernando de Andrade colocou em circulação, em 17 de julho daquele ano, um jornal impresso em formato tabloide, preto e branco, tiragem de 1 mil exemplares, com 12 páginas redigidas e paginadas por ele, revisadas pela esposa, Jussara Maria Trevisani de Andrade, e distribuídas pelos dois, com ajuda do irmão caçula, Lauderlandson Luciano de Andrade.

O conteúdo, conforme explica o fundador, era distribuído nas editorias de Comunidade, Política, Polícia: “Não posso negar que os quatro anos de Correio da Serra foram uma verdadeira escola de apuração e redação em política. Daí eu acrescentei uma boa dose de polêmica. Eu precisava chamar a atenção. Por isso, não tinha medo. Criticava duramente as falhas da Prefeitura de Lafaiete e estava lá, no mesmo dia, distribuindo a edição em cada uma das repartições. Fui ameaçado, não medi palavras, mexi com vaidades”, relatou.

A proposta do novo jornal, conforme destaca, deveria romper com o padrão vigente, fomentando o debate e dando espaço para uma pluralidade de versões em uma cidade onde antes vigorava apenas a opinião de uma facção: “Coloquei na minha cabeça que se fosse para fazer do mesmo jeito que os outros jornais não valeria a pena. Em Barbacena eu enfrentei as dificuldades de tentar mudar uma estrutura bicentenária, mas encontrei em Lafaiete uma cidade aberta para novas ideias, receptiva às mudanças positivas. Então, quis implantar o velho e bom jornalismo imparcial, que era novidade por aqui. A proposta era abrir espaço para o debate, para diferentes argumentos, novos pontos de vista e deixar a população refletindo”, argumentou.    

A proposta de um novo jornal teria desagradado grupos que detinham o poder: “A maior dificuldade foi fazer com que as pessoas aprendessem a viver com o diferente. Mostrar que mesmo quando não concordamos com uma opinião, devemos abrir espaço para ela. Que um jornal precisa estar acima de todos os interesses pessoais. As pessoas não aceitam bem críticas, odeiam aqueles que põem a mostra os seus defeitos. Mas a minha mensagem era sempre, ‘olha, eu estou criticando, mas você tem espaço para a sua defesa’ ”, defendeu.

Por evitar vinculações políticas, Luiz Fernando afirma ter sido vítima de ameaças e represálias. Conforme relata, os dois primeiros anos foram vencidos em meio a grandes dificuldades financeiras: “1991 foi um ano péssimo. 1992 foi pior ainda. Sofri ameaças, retaliações, convivi com a falta de dinheiro e sofri muita pressão psicológica. Eu ainda lutava para ter o meu espaço quando o veículo que dominava o mercado resolveu implantar uma medida nada ética para barrar a venda do Correio. Eles pagavam 40% de comissão no jornal deles para que a banca não aceitasse vender o meu. E como eu poderia vender jornais sem banca? Resolvi contratar garotos para venderem os jornais nas portas das bancas. Foi assim até as pessoas perceberem a proposta do jornal e optarem por ele”, contou.

Uma nova realidade começou a ser desenhada ainda em 1992. Ano de eleições municipais, o periódico investiu em debates, realizou pesquisas eleitorais, conquistando mais credibilidade. Apesar das urnas terem confirmado a permanência do mesmo grupo no poder, o novo prefeito teria dispensado um novo tratamento à imprensa: “Antes desta data, chegaram a ameaçar meus anunciantes para que eles cortassem os contratos com o jornal. Alguns continuaram pagando o contrato, mas pediram que a publicidade fosse retirada, para evitar problemas políticos. Com o novo prefeito, pelo menos as ameaças chegaram ao fim. Começamos vender um pequeno espaço para a Prefeitura, o que trazia um mínimo de estabilidade”, explicou.

Em 93, o semanário passou a circular com 18 páginas. A sede, que antes funcionava em uma pequena sala sem banheiro, na rua Afonso Pena, foi transferida para um espaço maior, na rua Melo Viana. Em 94, foram realizadas as primeiras contratações. O projeto gráfico foi alterado e o Jornal Correio passou a ser paginado no formato standard. Em 96, o jornal adquiriu sua primeira sala no edifício M. Cunha, na avenida Telésforo Cândido de Resende (onde funciona atualmente), a tiragem sobe para 1.500 exemplares e o periódico começa a fazer frente ao concorrente.

A Prefeitura passou por um momento de crise, marcado por greve de funcionários da limpeza urbana e seis meses de atraso no salário do funcionalismo municipal. Um novo pleito se aproximou e o Correio abriu espaço para o debate: “Este momento foi fundamental para que o Correio conquistasse a imagem de imparcial, isento, que hoje e a sua marca. Abrimos espaço para o debate de ideias, fizemos pesquisas, investimos muito na qualidade da informação e, uma semana antes do pleito, Lafaiete teve, através do jornal Correio, a primeira capa em cores nos mais de 100 anos de imprensa. Daí, o candidato que venceu adotou o sistema de licitações para contratar o órgão oficial do município. Como sempre mantivemos a situação fiscal do jornal em plena ordem, vencemos aquela concorrência e não perdemos mais. Desde 2005, somos também o órgão oficial da Câmara Municipal”, detalhou.

Uma importante conquista foi registrada em 1998. Neste ano, o jornal comprou sua primeira impressora e o serviço deixou de ser terceirizado. Neste mesmo ano, o principal concorrente faliu, foi fechado e reabriu um mês depois registrado como Nova Gazeta. Em 2005, o jornal adquiriu a sede de sua gráfica. Em 2007, o Correio da Cidade já contava com 23 funcionários diretos e mais uma impressora. Hoje as edições têm entre 68 e 86 páginas. Destas, seis, em média, são em policromia (colorida). A impressão é feita na gráfica do jornal, no bairro Oscar Corrêa, também.

O quadro de funcionários conta com quatro jornalistas formados, um editor de esportes sem formação específica em Comunicação, três estagiários em jornalismo que desempenham a função de repórteres. A diagramação conta com duas profissionais e o departamento de publicidade e mantém dois publicitários (atendimento e criação). O setor de telemarketing possui duas funcionárias e quatro pessoas trabalham no setor comercial. A gráfica, que também imprime produtos de terceiros, possui dois funcionários registrados e uma equipe contratada para a dobra dos jornais. A entrega é feita por uma empresa contratada. Também são terceirizados os serviços de contabilidade e assessoria jurídica.

Segundo o editor-chefe e diretor do Jornal CORREIO, Luiz Fernando de Andrade, a não obrigatoriedade do diploma não trouxe alterações na política de contratação da empresa. Apesar da dispensa legal, o CORREIO deve manter a exigência da formação específica em Comunicação Social ou, no caso de estágios, o atestado de matrícula e frequência em instituição de ensino superior: “A não obrigatoriedade do diploma é um retrocesso. A formação superior em uma área que exige senso crítico e conhecimentos específicos é uma importante ferramenta na busca por mais qualidade no jornalismo. A graduação para um jornalista é tão essencial quanto para um médico; um advogado. Eu mesmo lamento por ter sido forçado a abandonar o curso após quatro períodos. Acho que o profissional que tem acesso a teoria e uma queda pela prática será sempre um profissional mais completo”,

Além da edição semanal do “Correio da Cidade”, a empresa também produz diversos periódicos institucionais e de outras cidades, como o jornal “Ponto de Vista”, da cidade de Ouro Branco, que agora pertence a Luiz Fernando de Andrade e ao seu irmão, Lauderlandson Luciano de Andrade.

A comunidade participa de espaços no jornal, como a coluna “Qual é a sua denúncia?” e “Cartas à Redação”, além de sugerir vários temas para reportagens. Como reconhecimento desse trabalho, por diversas vezes, o “Correio da Cidade” tem sido alvo de homenagens. O mais importante foi conquistado em 1999, quando o jornal recebeu uma menção honrosa do Prêmio Esso, considerado o Oscar do jornalismo nacional, pela qualidade de sua editoração eletrônica e de seus textos.

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