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Queimadas: incêndios crescem quase 400% na cidade e região


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Jornal Correio
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Publicado em: 03/10/2020 - 17:29

 

Não é apenas impressão sua: o número de queimadas e incêndios cresceu de maneira assustadora nos últimos meses – de maneira mais precisa, 395%. E o problema tem se agravado agora, no período mais seco do ano, embora tenha chovido nos últimos dias. De acordo com o Corpo de Bombeiros, de janeiro a julho, cerca de 70 ocorrências de queimadas foram atendidas na área da 2ª Cia – mais de 90% dos chamados foram em Lafaiete (média de 10,5 ao mês). Já no mês de agosto, a cidade concentrou quase 50 chamados – aumento de 395%.

E esse número não considera os chamados que não puderam ser atendidos: “As ações de combate a incêndio flo­restal demandam tempo, efetivo e diversos gastos logísticos, o que pode ter contribuído para o combate aos in­cên­dios mais prioritários (que ameaçavam vidas e residências) em detrimentos a incêndios a lote vago, que de­mons­travam certo controle, apesar de atrapalhar na rotina da população do entorno”, explica o comandante da 2ª Cia/2ª Cia Ind. BM de Conselheiro Lafaiete, 1º tenente BM Radamés Lucas Hipólito Lopes.

O período mais crítico ainda está em curso, uma vez que o período de estiagem se estende até outubro, e pelo que tudo indica, os números tendem a ser mais altos que em anos anteriores. “Em 2017, foram registradas 166 ocorrências; em 2018, 98; em 2019, 138. Porém, é uma estimativa um tanto ousada, considerando que a cada ano a região apresenta uma variação de condições climáticas, como umidade, temperatura, vento e chuva”, explicou o comandante do 1º pelotão, João Victor Alves de Oliveira.

Setembro também tem sido um mês preocupante. Em Lafaiete, as chamas consumiram uma área 10 mil m² só na terça-feira, dia 15. Foram sete ocorrências de incêndio em vegetação nos bairros Jardim Europa, Parque dos Ferro­viários, Campo Alegre dos Carijós, Santa Matilde, Recanto da Hípica, Gagé e São José. Segundo o sargento Eduardo Campos, que chefiou os trabalhos, em alguns casos, pessoas colocaram fogo em lotes vagos pensando em fazer uma limpeza da área, para evitar a proliferação de pragas, “mas o prejuízo costuma ser grande quando esse fogo foge do controle e atinge as residências dos moradores e seus patrimônios, colocando em risco a própria vida”, alerta.

Crime

E é importante lembrar que boas intenções não eximem os responsáveis das consequências. “A lei também prevê pena para o crime cometido de forma culposa (ou seja, sem intenção). Os incêndios com danos materiais podem ser enquadrados, dependendo de suas consequências, em crime de incêndio previsto no código penal, com pena prevista de 3 a 6 anos de reclusão. Ainda existe a possibilidade de enquadramento em outros artigos como o de lesão corporal, no caso de vítimas. Temos a lei de crimes ambientais e, em alguns casos, códigos de condutas municipais, que possuem seus desdobramentos próprios. Além disso, fala-se na possibilidade de consequências na seara cível, como indenizações morais e materiais às vítimas”, explica o 1º tenente Radamés.

E a punição se faz necessária, principalmente, como forma de conscientizar a população para evitar estragos maiores, uma vez que os incêndios, em sua esmagadora maioria são causados pelo homem. “A maioria começa com uma limpeza de vegetação, destruição de lixo e renovação de pasto. Os incêndios acidentais ou de causas naturais compreendem uma parcela bem pequena. Mesmo que não seja a intenção da pessoa, tais atitudes trazem desdobramentos desastrosos em diversas esferas. Isso nos remete ao pensamento de que essas consequências poderiam ter sido evitadas, caso a população se conscientizasse. Contamos muito com a população para que entendam a gravidade que representa essa prática, mesmo que comum, e que tenham o pensamento dos problemas e danos que aquilo pode gerar, tanto individualmente como para a sociedade como um todo”, argumenta o comandante da 2ª Cia.

Em seu trabalho, o Corpo de Bombeiros prioriza o atendimento em situações de risco à integridade física de pessoas, animais e patrimônio, que na maioria das vezes se configuram como residências. O incêndio em vegetação pode passar para um imóvel em sua proximidade e gerar, além dos danos causados pelas perdas causadas diretamente pela queima, comprometimento à estrutura da residência como um todo, gerando instabilidade das paredes e telhado e danificar as instalações elétricas: “Nossos recursos são limitados e acontece de termos de priorizar um atendimento ao outro, frente ao alto número de demandas que surgem nesta época do ano. É importante que a população denuncie práticas de ateamento de fogo para que possamos buscar os responsáveis. Nossos serviços funcionam 24 horas por dia pelo telefone 193”, afirma o tenente João Vitor.

E essas queimadas têm um impacto mais significativo para o meio ambiente: “A destruição da vegetação afeta todo ecossistema do local. Isso pode destruir matas ciliares, que protegem corpos de água, secar nascentes, eliminar organismos animais que se alimentam da vegetação, desencadeando um desbalanceamento na cadeia alimentar, migração de animais terrestres como cobras e gambás para áreas urbanas, dentre outros”, comentou. Outro dano ambiental é a poluição do ar, que afeta diretamente o efeito estufa: “Além dos danos ambientais, ainda há a possibilidade de problemas de saúde na população com o desenvolvimento de doenças respiratórias e até câncer”, pontua o tenente João Victor.

Ameaça e prejuízos

As equipes do Corpo de Bombeiros vêm se desdobrando para combater os incêndios na região. E, como explicou o tenente Radamés, tem que priorizar os que colocam em risco a vida de pessoas e o patrimônio. Duas ocorrências recentes atendidas pela Cia de Lafaiete mostram os transtornos que essas queimadas podem causar. Em Cristiano Otoni, um incêndio iniciado em uma vegetação atingiu o depósito de uma madeireira e causou graves prejuízos à empresa. O caso foi registrado na sexta-feira, dia 11, e exigiu o empenho de 15 pessoas no combate às chamas. Um caminhão-pipa da Concessionária Via 040, uma retroescavadeira e um caminhão-pipa da prefeitura deram suporte nos trabalhos dos Bombeiros, que se estenderam das 13h30 às 18h. Para debelar as chamas, que chegaram a atingir 5m de altura, foram usados cerca de 40mil litros de água.

Já Congonhas, quem esteve em risco foi o patrimônio histórico da humanidade. No dia 16 de agosto, os trabalhos dos Bombeiros começaram cedo. Por volta de 9h, a corporação atendeu a um chamado na Fonte dos Moinhos, onde uma área de 600m² foi queimada. Já na parte da tarde, estiveram no bairro Primavera, na Estrada da Casa de Pedra e em um bambuzal no bairro Alvorada. As áreas queimadas atingiram mais de 2 mil m².

No fim da tarde, as chamas voltaram a rondar o patrimônio histórico. Às 17h50, bombeiros foram acionados no entorno da Basílica de Bom Jesus de Matozinhos, onde o incêndio em vegetação ameaçava uma área existente aos fundos da Casa Paroquial, datada do século XVII. Os bombeiros tiveram bastante trabalho para conter as chamas, que alimentadas pela força do vento consumiram facilmente braquiárias, samambaias e capineiras próximo às construções históricas. Depois de 2h de intenso trabalho e 4 mil m² de área consumida, os bombeiros conseguiram conter as chamas. A Defesa Civil do município foi acionada para as demais providências.

Panorama estadual

A situação vista em Lafaiete se repete em todo o estado. Somente nos oito primeiros meses do ano, o Corpo de Bombeiros já registrou um total de 12.640 ocorrências de incêndio em vegetação dos mais diversos tipos, como: unidades de conservação, áreas de produção agrícola ou de reflorestamento, áreas urbanas e rurais pertencentes à órgãos públicos ou privados, etc. O que assusta nesta quantidade são os incêndios em lotes vagos que já atingiram 6.272 ocorrências em todo o Estado. Ou seja, quase 50% das ocorrências.

Segundo o balanço da corporação, os números vêm aumentando consideravelmente mês a mês, na mesma proporção em que se aumenta a temperatura e diminui a umidade, ocasionando um alto índice de ocorrências que aumentou quase 150% de maio a agosto, período da estiagem e a tendência é que esses números aumentem em setembro, considerado o pico do número de ocorrências de incêndios em vegetação.

Média de registros de incêndio em Minas Gerais nos últimos quatro meses:

Maio: 1.619

Junho: 2.270

Julho: 3.522

Agosto: 3.889

Dicas do Corpo de Bombeiros

  • A principal maneira de a população contribuir é não fazendo queimadas;
  • Faça aceiros (desbaste do terreno) no entorno de sua propriedade, limpando a vegetação a uma largura de 1, 5 m vezes a altura da vegetação;
  • O incêndio causa prejuízos ao solo consumindo nutrientes e micro-organismo essenciais para as plantas, tornando a terra infértil em longo prazo;
  • O incêndio destrói a fauna, direta e indiretamente, consumindo vegetação e contaminando nascentes de água;
  • A queima da vegetação expõe o solo gerando erosão e, consequentemente, assoreamento de corpos d’água;
  • Vários fatores contribuem para a perda de controle das chamas como vento, temperatura, terreno e tempo: não arrisque!
  • Mantenha sua propriedade sempre limpa, aceirada e com a vegetação baixa.

 

 

 

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