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Pesquisa revela: metade dos brasileiros já sofreu assédio no trabalho
Divulgação
Publicado em: 26/06/2015 - 00:00
“Sofri durante os dois
anos em que trabalhei em uma determinada empresa. Em um dos mais graves
episódios, durante um período de doença de pele, a proprietária chegou a me
perguntar: ‘O que é isso? Sua pele está igual pele de sapo!’. Foi uma das
piores situações que já passei na minha vida profissional. Eu não tenho o menor
controle sobre a doença que me afeta”. O relato feito por uma lafaietense de 32
anos é um entre tantos exemplos de assédio moral. Uma postura criminosa
registrada em ambiente de trabalho e que, segundo pesquisa feita pelo site
Vagas.com e publicada com exclusividade pela BBC Brasil, afeta mais de 50% dos
trabalhadores brasileiros.
Os dados são
impressionantes. Dos 4.975 mil profissionais de todas as regiões do país,
ouvidos no fim de maio, 52% disseram ter sido vítimas de assédio sexual ou
moral. E, entre quem não passou por esta situação, 34% já presenciaram algum
episódio de abuso. O Vagas.com enviou o questionário para 70 mil profissionais
de sua base de dados, escolhidos entre os que tinham atualizado seu currículo
nos seis meses anteriores e tinham ao menos um emprego em seu histórico.
Mas a exemplo do que
acontece na maioria dos casos, o assédio não é registrado em um episódio
isolado: como uma tortura mental, ele se repete e expõe o trabalhador a um
verdadeiro drama: “Houve outra situação em que uma empresária jogou aos meus
pés um saco com produtos e perguntou se eu não estava enxergando ou não sabia o
que era aquilo”, disse. Mas a leitora não era a única a ser exposta ao comportamento
da empregadora e situações de desconfiança e mau humor eram frequentes: “Nesta
empresa, as bolsas dos funcionários também eram revistadas cada vez que
precisávamos sair do local de trabalho. Visando ao lucro, acima de qualquer
coisa, muitas vezes, ela demonstrou que considera os funcionários inferiores a
ela, de vários modos. Ela afirmou para um fornecedor que tinha 12 empregados e
se juntasse todos não eram capazes de fazer o que ela fazia sozinha”, conta.
Assim como 87,5% das
vítimas ouvidas pela pesquisa, a leitora não denunciou quem a assediou. Ela
optou por deixar o emprego, mas não sem levar na alma a marca das dores que
suportou: “Nunca mais consegui ver em um patrão uma figura que pode ser amiga
ou líder. Sempre tenho a impressão de que situações como aquelas podem voltar a
acontecer. E sim, já aconteceram outras vezes depois, o que me faz reforçar
ainda mais minha opinião. Ainda me sinto mal. Mas a cada dia que passa, tento
reafirmar para mim que eu não tive culpa nos episódios e que eles só
aconteceram porque eu estava lidando com uma pessoa despreparada para lidar com
os funcionários”, desabafa.
O que é assédio moral?
Conforme explica o
advogado e professor da Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete (FDCL),
Renato Armanelli Gibson, o assédio moral é a lesão psicológica causada por um
superior hierárquico a alguém que lhe seja subordinado, dentro de um contexto
de relação de trabalho. “Para a caracterização do assédio moral é
imprescindível a configuração de prática reiterada de atos persecutórios por
parte do empregador ou de preposto, sempre observando a ordem hierárquica, com
a finalidade de depreciar a imagem e o conceito do empregado perante si e seus
colegas de trabalho. Importante deixar claro que não é qualquer dissabor gerado
por um superior hierárquico que configura assédio moral. É necessário que haja
realmente situações frequentes de desrespeito, discriminação, humilhação e/ou
perseguição”, detalha.
De acordo com a
orientação do advogado, caso o empregado se sinta vítima desse tipo de abuso
por parte do seu patrão ou superior hierárquico, a atitude correta a ser feita
é procurar uma consultoria jurídica. “O advogado é o profissional habilitado para verificar se realmente existe assédio moral e
se há o direito de indenização naquele caso concreto”, orienta.
Casos são comuns
Como orientação aos
entrevistados, o assédio moral foi definido como "ser motivo de piadas e
chacotas, ofensas, agressões verbais ou gritos constantes, gerando humilhação
ou constrangimento individual ou coletivo", enquanto o assédio sexual
trazia como definição "receber investidas com tom sexual - cantadas,
olhares abusivos, propostas indecorosas". Nos resultados, o assédio moral
foi identificado como o tipo de abuso mais comum, apontado por 47,3% dos
profissionais que responderam à pesquisa, enquanto 9,7% disseram ter sofrido
assédio sexual. Entre os entrevistados, 48% disseram não ter sofrido assédio.
Alguns entrevistados
declararam ter sofrido os dois tipos de assédio. Mas os resultados mostram que,
enquanto o assédio moral foi relatado em proporções semelhantes por homens
(48%) e mulheres (52%), o sexual é quatro vezes mais comum entre elas: 80% das
pessoas que disseram ter sido vítimas de abuso são do sexo feminino. Entre os
receios mais comuns entre as vítimas de assédio que não o denunciaram, estão
perder o emprego (39%) e sofrer represália (31,6%). Não se trata de um medo
infundado, pois, entre os que denunciaram, 20,1% afirmaram terem sido demitidos
e 17,6% disseram ter sofrido algum tipo de perseguição. Segundo o estudo da
Vagas.com, 74,6% dos profissionais que denunciaram o abuso disseram que o assediador
permaneceu na empresa.