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Calor intensifica drama de reféns da ETE
Divulgação
Publicado em: 14/10/2015 - 00:00
Mais um ano se aproxima do fim sem que o drama vivido pelos moradores da região da Barreira tenha uma expectativa de término. Desde o início das atividades da Estação de Tratamento de Esgoto do Ribeirão Bananeiras (ETE-Bananeiras), a comunidade do Satélite e bairros vizinhos cobra o fim do martírio imposto pela emissão de gases resultantes do tratamento do esgoto da cidade no local. Mau cheiro, desvalorização de imóveis e até doenças estão entre as principais queixas da comunidade. Em uma das ações mais recentes, o membro da associação do bairro e morador da rua José Jorge Mafuz, Leandro Marcos de Souza, pediu, mais uma vez, a intervenção do Ministério Público em favor da comunidade.
Em ofício, enviado no dia 24 de setembro, o líder comunitário lembra que a emissão de H2S continua a gerar transtornos, intensificados pelo calor dos últimos dias: “O sofrimento dos moradores só tem aumentado. A comunidade vive como prisioneira dentro de suas casas, devido ao gás sufocante emitido pela ETE. A real situação prova que ETE Bananeiras, administrada pela Copasa, continua emitindo o gás H2S de forma descontrolada. Diante de tanto sofrimento, humilhação e descaso, a comunidade está, aos poucos, desistindo de lutar contra a Copasa, uma vez que ela já provou que toda e qualquer luta contra ela não irá trazer resultado positivo. Vale lembrar que seis anos se passaram, várias multas foram aplicadas, processos ajuizados, obras realizadas e nenhum resultado satisfatório apresentado, o que nos tira a esperança de solução do problema”, alega Leandro Marcos de Souza, que convida a promotoria para uma visita ao bairro.
Comunidade revela drama
Reféns de um problema sem data para terminar. É assim que se autodenominam os moradores do entorno da estação de tratamento. Moradora do Satélite há 1 ano, a ajudante de cozinha, Cleusa Ferreira da Silva, 45 anos, não consegue se acostumar ao mau cheiro da ETE e os transtornos trazidos por ele: “Há mosquitos e varejeiras. O fedor de xixi e barro podre é insuportável, especialmente à noite, por volta das 19h, 20h. Vim da cidade de Cataguases (MG), onde há uma fábrica de tecido. Lá eles fazem o tratamento de esgoto no centro da cidade e não tem esse mau cheiro igual aqui. Por isso, não entendo por que, aqui, a gente tenha que se sujeitar a isso”, considera.
Se para quem acaba de chegar ao bairro faltam motivos para entender o problema, para os mais antigos no local, o que falta mesmo é paciência para continuar suportando esse martírio, como revela o pedreiro Gabriel Arcanjo Meira, 50 anos. Morando metade da sua vida no Satélite, ele afirma que sobram problemas e falta boa vontade para resolvê-los. “A gente aguenta essa ETE e ainda passa por falta de água. Fui à Copasa, mas disseram que não tinha previsão para a volta do abastecimento de água. Que se eu quisesse água, que eles iriam fazer uma reunião com a chefia em Belo Horizonte para ver se poderiam liberar para gente pagar um caminhão – do próprio bolso - para pegar a água. Eu consegui o caminhão pipa de um conhecido meu para abastecer minha caixa. Isso faz sentido?”, questiona.
Enquanto isso, a comunidade sofre com a desvalorização dos imóveis: “Nossos imóveis estão desvalorizados. Quem vai comprar uma casa aqui? Isso prejudicou demais a gente. Estamos abandonados. No dia 14, faremos uma reunião no centro comunitário do São Benedito para discutirmos a situação. Prometeram a solução para o mês de junho, mas não teve resultado nenhum. No calor, sofremos mais ainda com esse mau cheiro”, avalia.
Para moradores como a dona de casa Lucimeire da Silva Elias, 39 anos, os problemas de saúde são a maior preocupação: “Moro aqui há 16 anos e nos últimos 5 estamos enfrentando essa catinga. Ninguém suporta mais. Estou com problemas sérios de bronquite. As crianças, principalmente, sofrem muito e a gente também. Quando vem visita a nossa casa, a gente fica constrangido com esse mau-cheiro. Ninguém aguenta isso. Nunca parou esse fedor. O cheiro é pior no calor”, considera.
A Copasa foi comunicada, via ofício, sobre as queixas dos moradores, mas até o fechamento desta matéria não havia se pronunciado.