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Aposentado continua trabalhando para manter a saúde
Divulgação
Publicado em: 12/05/2016 - 00:00
Lafaiete deveria ser chamada de "A cidade do que já teve". Essa é a visão do torneiro mecânico Vivaldo Paulino Viera Filho, 74 anos. Morador do Santa Maria (região sudeste) e presença garantida, todos os dias, em uma tornearia no Santa Matilde (zona sul), ele conta que viu de perto a cidade crescer e depois, perder uma a uma suas grandes conquistas. "A Santa Matilde foi uma escola sem igual. Entrei como aprendiz de torneiro mecânico e, depois disso, trabalhei em vários lugares, entre eles, a CSN, em Volta Redonda (RJ). Fiquei lá até me aposentar e, então, comecei a trabalhar em uma oficina. Mas me lembro de como fui bem recebido lá por causa desse diploma. Nem precisei fazer teste e ainda me pediram indicação de mais funcionários", conta.
A empresa que já foi o orgulho o senhor Vivaldo hoje não existe mais, assim como tantas outras lembradas pelo torneiro: "Já tivemos a Poclen, Ferro Ligas, fábrica de cabines de retroescavadeira, de macarrão, camisas... Muitas empresas foram fechadas. É por isso que têm tantos jovens nas esquinas sem ter o que fazer; sem um trabalho para se orgulhar", lamenta. Torcedor do Atlético Mineiro, Vivaldo se lembra dos tempos em que jogava malha e vê com tristeza o fim dos campos de futebol: "Fazia gosto ir aos campos antigamente. O campo do Guarani era um espetáculo. Hoje estão destruindo não só ele, como o do América, Corintians, Amaro Ribeiro. Isso não só choca a gente, como entristece. Lafaiete é daí para pior", assegura.
Para ele, a raiz dos problemas está na política: "Eu culpo a política; a falta interesse. Deveriam dar terrenos para as pessoas abrirem firmas pequenas, porque seriam muitas opções de emprego. Mas o empresário está sempre sozinho. E de terreno invadido a cidade está cheia! Acho que, para melhorar, temos que aprender a votar. Tem 4 anos que o prefeito está lá e agora que os vereadores estão falando dele. Deve ser para ganhar voto. É por essas e outras que vereador não deveria receber salário", considera.
Mas há uma coisa da qual o senhor Vivaldo fala com orgulho: a sua profissão. Filho de torneiro mecânico, ele apreendeu cedo a moldar os metais e dar a eles a força e a forma que movem as indústrias: "Sou filho de Vivaldo Paulino Viera e Conceição Basílio Vieira. Meu pai era um torneiro muito conhecido. Dele, herdei o nome e o ofício. A mesma profissão dos meus tios, que passei para os meus filhos e que é o arrimo da nossa família. Uma profissão que sempre representou muito na minha vida e hoje está sendo extinta, porque os jovens não têm oportunidade de aprender. Todos que ensinei o ofício estão empregados. Afinal, a profissão é versátil. Toda indústria precisa de torneiros", afirma.
As dificuldades da vida ele enfrenta com a força do trabalho e muita determinação: "Eu me casei e tive quatro filhos: Robson, Vivaldo Jr. Rosinei e Andreia. Perdi minha esposa e sofri muito por isso. Tive que, praticamente, recomeçar do zero. Hoje todos os meus filhos já são casados. Eu superei as dificuldades e, então, me casei de novo e já sou avô de seis netos", conta. Mesmo aposentado, seu Vivaldo não pretende se afastar do ofício: "Minha inspiração é o trabalho. Tenho 74 anos e não tomo nenhum remédio. Sei que minha saúde vem disso: da forma como o meu trabalho mexe com a minha mente. Também tenho muitos colegas que continuam na ativa, porque trabalhar faz bem", finaliza.