25º
Cons. Lafaiete

Comunidade

Patrões relatam histórias de domésticas que foram acolhidas como pessoas das famílias


Divulgação

Fanny Elen
[email protected]

Publicado em: 26/05/2016 - 00:00

Maria Elisabeth Gonçalves Pereira, 56 anos, trabalha na casa de Magali Juncal Vitória Guimarães Freitas e Paulo Antônio Guimarães Freitas, há 26 anos. Ela é uma das domésticas que têm tido o rosto representado nas telas do cinema, em vários filmes que abordam a relação entre patrões e empregados. Para além das questões trabalhistas, o envolvimento é de uma proximidade ainda maior e, naturalmente, empregados são vistos até como membros das famílias e, por vezes, verdadeiros anjos da guarda.  

Natural de Carmo de Minas, Maria Elisabeth trabalhava com a irmã de Magali em Belo Ho­rizonte e foi para casa dos atuais patrões para substituir a empregada do casal, que estava doente e não saiu mais de lá: "Já conhecia o pessoal e, hoje, tenho eles como minha segunda família", afirmou, destacando a convivência como ponto positivo de trabalhar tanto tempo na mesma casa: "É muito mais tranquilo trabalhar com eles. Com o tempo de convivência, virei até 'palpiteira'. Passei a opinar, sugerir e participar da vida dos patrões", conta. Maria Elisabeth começou a trabalhar com a irmã de dona Magali quando tinha 14 anos: "Passo mais tempo no trabalho do que com minha família. Ajudei a criar os sobrinhos e nunca me imaginei fora daqui", disse, informando que se aposentará no próximo ano, mas, que pretende trabalhar até quando tiver forças: "Gosto muito do que faço. Adoro cozinhar. Tenho minha casa, duas filhas, dois netos. Meus filhos chamam eles de tios. O segredo de tudo isso é a boa vontade de trabalhar e o bom humor. Tenho só que agradecer a eles por me ajudarem por estar junto deles. Aqui me sinto confortada, abraçada e, principalmente, tenho confiança de trabalhar com eles", afirma.

Na casa do comerciante Paulo, a doméstica é conhecida como Beth. Para ele e Magali, tê-la em seu lar é um grande conforto: "Ter uma casa caprichosa em que você chega e tem a sua comida a tempo e a hora,  sua roupa sempre com muito capricho, muito cuidado. É um privilégio ter uma pessoa que trabalha com esse carinho, com essa atenção e, há tanto tempo", afirmam. Paulo diz que sua família teve muita sor­te: "Várias pessoas têm esse profissional, mas está sempre trocando por algum motivo. Eu e Magali tivemos essa sorte. Encontrar a Beth, que é essa pessoa que nos traz tanto carinho, há muito tempo. Não nos imaginamos sem a Beth hoje. Até pelo nosso modo de vida. Eu e Magali trabalhamos muito, estamos sempre na rua. A relação é tão próxima que Beth é figura sempre certa nas festas da família", afirma.

Magali trata Beth como uma grande amiga, com quem sempre pode contar. "Ela toma conta da casa e de nossa vida mesmo. Nossa relação é de muita confiança e carinho mútuo", afirma Magali, ressaltando o bom humor de Beth.

Paulo ainda ressalta que também participa de momentos importantes na vida de Beth: "Sempre tivemos muita atenção com as questões trabalhistas, antes mesmo de ser lei, já garantíamos todos os direitos a ela. Agora já é lei e para nós não é problema. Não deixa de ter um vínculo trabalhista e por estar convivendo, intimamente, dentro de uma residência, ela se torna uma profissional diferenciada. Se tiver sorte com esse tipo de profissional, você terá a amizade dele para sempre. Essa é a grande diferença do trabalhador tradicional para o trabalhador de casa. A gente passa a ser amigo. Sou comerciante e tive poucos profissionais, que, hoje, são amigos", comenta.

A doméstica, Lucimar da Ajuda Teodoro Rocha, 42 anos, é outra profissional que está há vários anos tra­balhando para a mesma família. "Estou há quase 15 anos na mesma casa. Minha prima que me indicou e deu muito certo. Vim trabalhar para a Flávia que tinha crianças gêmeas e eu nunca havia trabalhado como babá. Ajudei a cuidar das meninas. Fui tomando gosto e me adaptei a elas. Hoje as meninas têm 19 anos e, depois de 17 anos, veio a pequeninha dela, que está com dois anos e meio e eu também ajudo cuidar dela agora", afirma Lucimar, ressaltando a confiança que foi adquirida com tanto tempo de trabalho na mesma casa.

Lucimar também passa mais tempo na casa dos patrões do que com sua família que ajuda a manter com o trabalho. "Meu filho, Matheus, hoje, tem 22 anos e também tive outra filha, Maisa. Naquela época pensei em me afastar do serviço, mas como é perto da minha casa e tem creche aqui perto, eu continuei. Hoje, ela está com 8 anos.", afirma Lucimar, dizendo que não se imagina fora da casa de seus patrões. "Já tentei me afastar, mas meu coração bate mais forte. Não consegui deixar as meninas. Fiquei por amor à família. Considero as filhas da Flávia, como minhas também", comenta Lucimar.

A patroa, Flávia Maria de Faria Dornelas Mo­reira, 48 anos, diz que sem Lucimar sua casa não funciona: "Aqui ela sabe onde está tudo, ela que organiza. Ela é meu braço direito e a considero como se fosse da família. Não imagino minha vida sem ela aqui", diz.

Flávia ressalta que mantém com Lucimar uma relação de amizade e confiança: "Ela participa de conversas, de festas. Outras pessoas da família fazem questão de chamá-la para festas também. Não pensam em nos convidar e não convidá-la. Acompanhei os filhos dela crescerem. A Maisa e minha filha brincam muito. A gente sabe o valor dessas pessoas para a gente, mas a gente não fala, porque na correria do dia a dia não conseguimos nem expor isso. Esta matéria vai mostrar o carinho que temos e a importância delas para nossa vida", destaca.

 

 

 

 

Mais notícias

Vídeos