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Trânsito de CL está deixando motoristas e pedestres doentes
Divulgação
Publicado em: 26/03/2013 - 13:11
Segundo ela, até 2011, ela fazia um rodízio de trajeto antes de ir para a escola. “Às vezes, eu seguia pela Fonte Grande e, em outros dias, pelo Centro, mas atualmente tudo ficou ruim. A cidade está travada e não existem mais vias alternativas, com fluidez de tráfego. Virou um inferno sair de carro em Lafaiete e a coisa piora nos horários de pico: manhã, hora do almoço e fim de tarde”, observou a dona-de-casa, que admite não ter mais esperança de dias melhores. “Leio sempre no Jornal CORREIO reclamações sobre o trânsito da cidade e, sinceramente, não vejo solução a curto prazo. Já estou olhando um terapeuta para me ajudar a aceitar a situação e vou tentar aprender a conviver com esse caos”, desabafa.
Outro caso que merece destaque é o relato de João Carlos de Assis Alves, morador no bairro Cachoeira (zona norte), e que trabalha numa grande empresa da região. “Saio de casa pela manhã e sou obrigado a passar em várias ruas e avenidas de Lafaiete com meu ônibus. As dificuldades são imensas e perdemos várias horas andando dentro da cidade. Na volta de meu trabalho, já cansado por causa do desgaste do dia a dia, volto a rodopiar por nosso município, dessa vez, com mais intensidade e muito mais estresse. Além do meu ônibus e de vários outros, encontramos um trânsito infernal, com vans que chegam de outras cidades para as faculdades, ônibus municipais superlotados de pessoas que estão largando o trabalho e motoristas nervosos que estão prestes a explodir”.
Essa rotina, conforme revelou o leitor João Carlos de Assis, tem provocado mudanças profundas em sua vida e, também, na de sua família. “Chego em casa nervoso, deprimido e custo a relaxar. Quando consigo isso, já está na hora de dormir e logo lembro-me de que no outro dia, às 6h30, tudo vai começar de novo. Chego a sonhar com isso e tenho pesadelos. Minha família está tentando me ajudar, pois acho que já estou em depressão e já pensei, inclusive, em vender minha casa na cidade e me mudar para uma cidade menor, que tenha poucos carros”, concluiu ele, para quem não há solução para o trânsito da cidade. “As pessoas não querem saber de andar de ônibus. Todo mundo quer carro, às vezes, três ou quatro numa só casa, por isso acho que a prefeitura e nem ninguém dará jeito nisso. A tendência, infelizmente, é só piorar”, lamenta.
Diante dos relatos, o Jornal CORREIO procurou o psiquiatra José Álvaro Duarte Castanheira que, além de esclarecer a situação do ponto de vista médico, explicou a origem, causas e os sintomas das doenças que acometem pessoas nessas situações. Ele também listou os cuidados que motoristas e pedestres precisam tomar de agora em diante.
Jornal CORREIO - Que tipo de doença essa situação pode desencadear?
Dr. José Álvaro Castanheira - Primeiramente, o trânsito pode causar as doenças dos acidentes. Fora da área psiquiátrica, são as fraturas e outros males orgânicos, como derrames e outros. Na área psiquiátrica, leva uma pessoa a um estado de ansiedade, de angústia, que podem gera doenças também de natureza psíquica e orgânica. As psíquicas são as neuroses, as psicoses, e as disritmias cerebrais. Já na parte orgânica, são as somatizações: a pessoa pode depois de sofrer um acidente de trânsito, em que teve uma emoção muito forte, desenvolver uma úlcera de estômago, um infarto, uma crise hipertensiva, ou então até mesmo um acidente vascular cerebral (AVC). De qualquer maneira, diante de um acidente de trânsito, a pessoa pode vir a ter palpitações, insônia, angústia, ansiedade, depressões. Há registros de casos de acidente de trânsito que apresentam males desse tipo. A gente tem que fazer uma medicação de apoio e também uma psicoterapia para ver as áreas de conflito que as pessoas estão vivendo para saber o que a gente tem que trabalhar, se é familiar, profissional ou social. O trânsito hoje está cada vez mais difícil, mais tumultuado, e com isso as pessoas estão ficando mais impacientes. São várias as causas desse nervosismo todo. Pode ser uma falta de adaptação no trabalho, falta de repouso, de lazer. A pessoa deve ter um trabalho higiênico, trabalhar 8h, dormir 8h, divertir-se também, que é muito importante. Problemas familiares podem trazer angústia, ansiedade, e fazer um ambiente de intranquilidade, devido ao estado de falta de dinheiro; falta de renda. É muito comum, nesses casos, a pessoa ficar muito preocupada, tudo agravado com as horas que se gasta no trânsito para ir trabalhar.
Jornal CORREIO - A que sinais devemos estar atentos? Qual é a hora de procurar um especialista?
Os sintomas que devemos ficar atentos são o aumento da ansiedade, da insônia, do nervosismo e da síndrome do pânico. A pessoa pode entrar em um estado de angústia tal que dá palpitações, falta de ar, sudorese, taquicardia. A hora de procurar o médico é quando a pessoa estiver sofrendo muito. Às vezes, as pessoas se aguentam sozinhas e superam o problema. Quando isso não acontece, têm que apelar para os especialistas. Para fazer o tratamento é preciso analisar como está vivendo a pessoa na sua família, no seu trabalho, para ver se tem algum conflito grande. Saber a vida que a pessoa está levando, sofrimento econômico, financeiro, sofrimento de desamor, falta de amor com os amigos, com os parentes. Cada paciente tem que ser analisado, cada um é um caso.
Jornal CORREIO - Que atitudes tomar para se prevenir desses problemas?
Para evitar essas doenças, a pessoa precisa dormir oito horas por dia, ter tempo para lazer, se alimentar bem, ter tempo para trabalhar, ou seja, planejar bem o dia, e dividir bem os horários. Geralmente na vida moderna em uma cidade do porte de Lafaiete a pessoa não tem condições de fazer isso. A maioria das pessoas vive sob tensão. E essa tensão contínua acaba trazendo doenças. A solução é exercer uma virtude que se chama paciência.
Jornal CORREIO - Suas considerações finais.
Esse tema é importante para nossa cidade, porque Lafaiete está com um trânsito de veículos muito grande, já me informaram que existe perto de 58 mil veículos registrados no Detran e isso vem crescendo mais a cada dia. Então o congestionamento das ruas, a falta de estacionamento e uma série de inconvenientes para a pessoa transitar dentro da cidade, faz com que crie condições para a pessoa adoecer.
qO psiquiatra José Álvaro Duarte Castanheira atende na avenida Prefeito Mário Rodrigues Pereira, 35, sala 205, de segunda a sexta-feira, das 12h às 14h. O telefone para contato é o 3763-8342.
DMT e psicóloga abordam assunto na próxima edição
Paulo Sarmento, chefe do Departamento Municipal de Trânsito (DMT) de Lafaiete e a psicóloga clínica Adriadne Reis Pereira Abrantes vão falar sobre os males do trânsito na próxima edição do Jornal CORREIO. Sarmento vai expor e explicar os projetos da nova administração municipal para essa complicada área e Adriadne listará e comentará os males que o trânsito local tem provocado nos choferes e pedestres.
Cidade já tem quase 58 mil veículos
Dados do Ministério das Cidades informam que a frota de Lafaiete aumentou mais de 106%, de 2005 a 2012, passando de 27.708 para 57.225 veículos. Mas será que o desenvolvimento da cidade acompanha, proporcionalmente, esse aumento relevante? Infelizmente não. Na verdade, as ruas e avenidas foram planejadas para uma cidade de, no máximo, 30 mil habitantes, há mais de 40 anos. Hoje, já são mais de 116.512 pessoas vivendo em uma área de pouco mais de 370 km². As consequências são: engarrafamentos, principalmente nos horários de pico, poluição e vários acidentes, todos os dias.